7 de julho de 2015

Coimbra, uma Jóia Botânica

Recordo-me, com nostalgia, a imagem de, quando era muito pequeno, depois de ter ido prestar uma visita às galinhas dos meus avós maternos, descer, com uma cestinha nas mãos, cheia de ovos, a íngreme estrada do local. Sozinho, ia até à casa de uma amiga, mais velha que eu, e entregava-lhe a cesta, pedindo-lhe que pusesse os ovos na sua incubadora. Eram, depois disso, vinte e um dias de inquebrável ansiedade por voltar a casa dela e assistir ao milagre da eclosão.

Cuidadosamente, fazendo o percurso inverso, levava, na mesma cestinha onde antes estavam os ovos, os delicados pintos que piavam com estridência.
Na altura, gostava da ideia de pensar que os pintos me consideravam a sua figura maternal, mas chegada a noite, quando a minha mãe me ia buscar a casa dos meus avós maternos, a única companhia das pequenas aves eram elas mesmas e o calor produzido por uma lâmpada vermelha, absolutamente incomodativa ao olhar. "Que tipo de progenitor abandona assim as suas crias?", terão os pintos pensado. A verdade é que, no dia seguinte, quando lá voltava, os pintos já não me reconheciam. A culpa e a irresponsabilidade eram sentimentos que me passavam pela mente. Mas o que poderia fazer um rapazito de dez anos em relação a isso? Com certeza que ninguém da minha família me deixaria ficar a dormir em cima do serrim, dentro de um galinheiro, só para estar com os meus pequenotes, por muito mais que eu quisesse... E queria! E assim se repetiu a aventura durante alguns anos.

É tão bom recordar estes momentos, estas histórias, estas habilidades.

Mas deixem-me, caros leitores, explicar-vos o título desta publicação.
É que essa minha amiga, Margarida Negrais, escritora de obras literárias como Mig, a formiga comodista e O rim artificial, convidou-me para, com a minha querida avó materna, a acompanharmos numa viagem a Coimbra, também na companhia do Dr. Levi Guerra, reconhecido nefrologista e simpática presença, sorridente e atencioso.

De manhã bem cedo partimos viagem e quando chegámos, ainda pela parte da manhã, claramente, visitámos o Jardim Botânico da Universidade de Coimbra, idealizado, em 1772, por Marquês de Pombal, e cujo nome seria Horto Botânico.



As suas dimensões e beleza são desregradas, a sua arquitectura fenomenal e as proporções de algumas árvores causavam sensações vertiginosas. Porém, o nosso intuito foi visitar uma estufa em particular, um paraíso de orquídeas construído pelo casal finlandês Ranta. Foram centenas as espécies que Pekka e Tuulikki Ranta ofereceram a esse jardim, mas milhares são os exemplares na totalidade da sua majestosa colecção.

Pekka Ranta numa detalhada explicação sobre a absorção de água pelas raízes de orquídeas epífitas tropicais e sua consequente importância.

 Exemplar raro de orquídea do género Dendrobium.

Depois do clima tropical ao qual estivemos sujeitos dentro da estufa das orquídeas, fomos-nos refrescar, à hora de almoço, com um copo de maduro branco e carregar energias com um tenro lombo de porco, no restaurante Virabrasa, onde a razão qualidade-preço é deveras justa. Desta maneira, publicidade à parte, fica a sugestão para uma refeição mais económica, caso passem por lá.

Sem faltas nem atrasos, às duas e meia da tarde em ponto, depois de termos visitado o museu do Instituto de Botânica, estávamos nós sentados nas cadeiras de uma sala, ansiosamente aguardando uma presença muito especial, a do Professor Doutor Jorge Paiva, uma verdadeira referência no que à botânica concerne.
Uma vez que éramos um grupo pequeno de pessoas, tive o privilégio de privar com, permitam-me a alcunha, o Mestre das plantas. Já com 82 anos de idade, Jorge Paiva conserva um perfil atlético e diz correr doze quilómetros por dia nos meandros da zona onde vive. Possui um conhecimento transcendente na área de Biologia e comunica com particular entusiasmo, sempre esclarecedor e bem-humorado.

Tivemos a enorme regalia de ouvir dois temas distintos, sempre ligados à História-Natural, claramente.

Barcelos Arboretum, assim se denominava o primeiro tema. Segundo o Professor existem 270 espécies diferentes de plantas autóctones de Portugal distribuídas por 1800 exemplares, nesse que é o jardim da Escola Secundária de Barcelos, único, pelo menos na Península Ibérica, por albergar única e exclusivamente flora nativa.
Entre as centenas de espécies vegetais desse jardim está o padreiro (Acer psedoplatanus), o azereiro (Prunus lusitanica), o periqueiro (Pyrus cordata), algumas espécies de urzes (Erica sp.) e de roseiras, o piorno-dos-tintureiros (Genista florida), o vidoeiro (Betula pendula) e o teixo (Taxus baccata) uma árvore extremamente venenosa, mas cujas propriedades medicinais ajudam na cura de cancros.
A preservação e a divulgação de iniciativas destas são, a meu ver, imperativas, pois trata-se de um caso insólito onde a população estudantil orgulha-se e protege o seu arboretum.



"100% dos políticos desconhece os problemas pelos quais a biodiversidade está a passar, 90% deles não sabe o que é a biodiversidade", disse, e com toda a pertinência, o Professor a propósito do seu segundo e último tema.
De quando em vez associando notas políticas e sociais à problemática da biodiversidade, Jorge Paiva mostrou, sem qualquer hipótese de rejeição à ideia exprimida, a colossal importância da biodiversidade para o Homem.

Três camaradas, simpáticos e atenciosos, com os quais tenho a sorte de partilhar os mesmos interesses. 


4 comentários:

  1. Gostei muito do seu blog, muito didáctico e original.
    É também de louvar a sua escrita muito peculiar Pedro.
    Continue com este projecto, vai longe!

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O autor deste blogue agradece a todos pela sua interacção nesta "casa".