17 de outubro de 2017

A Relação entre "As minhas Histórias" e a Destruição da Floresta Portuguesa

Neste momento de perda de vidas humanas, de biodiversidade e de paciência, ouso ensejá-lo para chamar à e a atenção de vários problemas, onde os valores e as prioridades estão em jogo. Num jogo sujo, em cujas regras, aparentemente, são categoricamente negligenciadas, entenda-se.

Sem querer "puxar pelos galões", como diz o Sr. Professor Galopim de Carvalho, é-me praticamente obrigatório dizer que, como estudante de Biologia do mais prestigiado departamento do país, ligado teluricamente ao Mundo Natural desde que me lembro, defensor acérrimo da preservação dos ecossistemas, divulgador das Ciências Naturais pelos meios cibernéticos e imprensa regional, e sofredor pela dor alheia, não posso, de forma alguma, pois a minha consciência não mo permite, deixar de me manifestar em relação ao "ecocídio" que se abate pelo nosso país.
É mais que sabida a história do impacto dos incêndios dantescos, quer a nível antrópico, quer a nível ecológico. Por isso, não esmiuçarei o assunto por essa perspectiva. Aliás, existem, ao alcance de todos, artigos e textos de opinião fantásticos de grandes pessoas, como é o caso do Sr. Professor Jorge Paiva, que sabem, muito, muito, muito, mas mesmo muito mais que eu e que, por essa mesma razão, não me parece que lhes acrescentaria alguma coisa.
Assim, e porque não creio ter um grande alcance de leitores por estas bandas, gostaria de elucidar as pessoas que me estão mais próximas fisicamente de duas ou três coisas. E vou fazê-lo!

As nossas fauna e flora, enfim, a nossa biodiversidade enfrenta um grave e rápido declínio. Pronto, não há forma mais clara e simples de o dizer. Compreendam, por favor, que a presente situação, pela qual Portugal está a passar, de elevada humanização da paisagem, tem erradicado as áreas naturais e a sustentabilidade do meio ambiente. Sem árvores e outras plantas nativas, sem uma Floresta Autóctone, não há a reciclagem dos gases atmosféricos, o dióxido de carbono não é fixado, o oxigénio não é produzido, a percentagem de humidade no ar, que seria evapotranspirada pelos seres fotossintéticos, cai exponencialmente, o ciclo da água fica incompleto, os cursos de água doce (a que nós bebemos e usamos para as mais diversas actividades, lembrem-se) começam a "esvaziar-se" e não são purificados, os solos deixam de ser fixados, ficando desprovidos de nutrientes e mais propensos a colapsarem. Em suma, estando os nossos ecossistemas fragilizados e em total desequilíbrio, e tendo em conta que esta crise ambiental é à escala global, há uma boa e grande probabilidade de ficarmos sem água para beber, sem comida para comer, sem solo fértil para produzirmos ou darmos oportunidade de produzir alimento, sem um chão seguro para pisar, sem ar para respirar! - é assim que se ensinam os jovens e as crianças, mais ou menos com estas palavras. E vocês, caros leitores acima dos dezoito anos, percebem o quelho onde nos fomos "meter"? Eu não me refiro apenas às "plantinhas", como alguns poderão aviltar. Uma Floresta é um ecossistema extremamente complexo, uma rede intrincada de relações entre animais, plantas, fungos e outros seres vivos, é a gradual modificação das rochas e dos seus componentes que se libertam para o meio, é o tronco de árvore caído que dá matéria e energia ao ciclo da vida. É isso mesmo! A Floresta é vida!

"E que raio tem isto a ver com as tuas histórias?", poderão perguntar.
A resposta é bastante singela e não tenciono alongar muito mais. Refiro-me, neste caso particular, ao livro "A história de Martim Pescador e Sr. Gaspar". Não, não estou a tentar "vender o meu peixe", seria incapaz de aproveitar uma situação tão delicada como esta para fazer semelhante coisa. A questão é que, como os leitores mais atentos admitem e confirmam, não obstante a crítica social que também está presente, o elenco é estruturado, de fio a pavio, por uma visão de um Portugal intacto, virgem, intocado. Há a passagem das planuras douradas, pontilhadas com sobreiros e outras plantas, que surgem da realidade natural do nosso Sul. E, depois, a chegada à luxuriante Floresta, mais a Norte, onde descrevo, ensino e relembro várias espécies faunísticas e, principalmente, botânicas das nossas manchas florestais, ou daquilo que elas seriam se tivessem sido respeitadas, amadas e preservadas. Mais! A Floresta que eu descrevo na história é - e agora chamo a atenção dos meus conterrâneos - precisamente a floresta mista que Vale de Cambra já foi, em tempos, há centenas e centenas de anos. Sim, Vale de Cambra, essa terra que agora não é mais que uma monocultura de eucaliptal a renascer das cinzas, já foi um éden biológico. Eu tentei arrancar esse verdadeiro "Vale Mágico" da densa e profunda destruição ecológica através de uma alegoria com mais de oitenta páginas, mas creio que poucos o perceberam, incluindo os membros da autarquia, ou seja, aqueles que, efectivamente, podem e devem fazer alguma coisa em relação à tragédia que aqui é posta em perspectiva.

Mas eu ainda não acabei o meu trabalho... Ainda tenho mais para fazer.
Não tenho problema nenhum em divulgar que, por exemplo, este sábado, dia 21 de Outubro, estarei na cidade do Porto, na Avenida dos Aliados, a participar na manifestação "Portugal Contra os Incêndios". Tive conhecimento que será uma manifestação silenciosa, mas eu não me importo: já gritei aqui!
E os meus caros leitores, podem ou querem fazer alguma coisa em relação a este flagelo? Dizerem que são muito amiguinhos dos bombeiros já me causa briquismo. Esses heróis precisam de ajuda materializada, não precisam de elogios baratos.
Por favor, tomem uma atitude. Caminhemos para um mundo melhor, mais puro e menos perigoso.

 
Numa floresta exemplar em Espanha, Galiza. 




     

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