4 de agosto de 2015

O gosto a caseiro, com fogaça e pão de leite

Já se passou mais de meio ano quando fui, a casa de uma tia, em Figueiredo (Oliveira de Azeméis), tentar aprender como se confecciona a tão prestigiada fogaça.

Bem, caros leitores, a verdade é que não aprendi absolutamente nada!
Não por ser mau aluno, ainda menos por ter má professora. Simplesmente perdi-me, como é costume, no tempo e cheguei tão atrasado que ela, no seu estilo despachado e bem-humorado, disse que "a massa tinha que ser feita para ficar a levedar e, por isso, o trabalho já ficou adiantado". "Viesses mais cedo", exclamou ela, com toda a razão, mas sempre com um jeito burlesco.

Lembro-me, no entanto, de ver o meu tio ainda a amassar umas quantas: à bruta, mas com perícia, espancava a massa das fogaças contra o tampo da mesa e dava-lhes voltas, para que ficassem fofas quando saíssem do forno.

Enquanto falávamos sobre nós e das nossas coisas, íamos comendo os pães de leite que os meus tios já tinham tirado do forno. Quentes, macios e dulcíssimos, os pães eram, inquestionavelmente, mil vezes melhores que aqueles que compramos nos supermercados ou, até mesmo, nas próprias padarias.
Era naqueles pães, feitos pelos meus tios, que o gosto que nos ficava na boca fazia jus ao seu nome, pois, realmente, sabiam a leite, com um muito suave travo a leite condensado. Estavam, com todas as letras, sumptuosos!
Acompanhando a conversa e os pães estava "o nosso cafezito", como nós o gostamos de chamar. É, muito simplesmente, e como os antigos devem saber, o café de saco que passa por um filtro de flanela e enche o nosso estômago de conforto. Sempre que lá vou, a minha tia faz questão que "o nosso cafezito" esteja presente.

Depois de estarem devidamente levedadas e amassadas, e para não fugir à tradição, as fogaças levaram dois golpes no topo, golpes esses que nos recordam, sempre que para elas olhamos, o castelo que elas simbolizam e toda a história que lhes é intrínseca.

In blogue "A Árvore da Vida"
2/ 9/ 2014

Hoje decidi recordar este texto que escrevi quase há um ano, por ter ido recentemente à Feira Medieval em Santa Maria da Feira, local que nos remete imediatamente às fogaças e às "fogacinhas", tal como as vi, exíguas e rechonchudas a exalarem o seu perfume quente a massa levedada.



1 comentário:

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